Amor Simbólico
O amor simbólico e o amor prático.
“Eu te amo, mas amo do meu jeito. Esse é meu jeito de ser e não posso mudar, mas saiba que te amo.”
Muitas das vezes nos deparamos com pessoas que tomam a frase acima como mantra para suas vidas. Elas dizem desenvolver um amor dentro de si, mas recusam-se a demonstrá-lo para quem quer que seja. Esse amor é aquele amor direcionado às pessoas e não às coisas ou aos sonhos que temos na nossa vida. Estamos falando sobre relações interpessoais. Mais especificamente a relação que temos com nossos entes queridos, uma vez que não vamos dispender amor a colegas de trabalho ou estranhos que podem cruzar nossas vidas efemeramente.
Esse “jeito” é a incapacidade de exprimir em ações ou palavras o sentimento que eles cultivam dentro de si. Podemos pensar como incapacidade ou talvez uma simples decisão em não demonstrar, mas quando perguntados a resposta é sempre que existe amor, carinho, ou qualquer coisa relacionada ao assunto. É como se houvesse um poço com amor no fundo e a única forma de você obter esse amor é encontrando esse poço e vertendo-o de lá. Um poço muita das vezes inacessível, e sabe-se lá se realmente possui água. Talvez uma água simbólica, como um amor simbólico.
O amor simbólico
é um amor que ocorre só dentro de nós, que é passivo, inerte, não se demonstra.
É como se a pessoa quisesse que você olhasse pra dentro dos seus pensamentos
para que reconhecesse o amor que existe ali dentro, confinado entre as suas
paredes mentais, trancafiado numa prisão intocável, insonora, opaca, em que
somente o dono das sinapses que a criou tem acesso. Eu me pergunto se isso, de
fato, é amor. Ou se é um sentimento recluso e egoísta de experimentar
sensações.
Num contraste bem próximo temos o amor
prático. Aquele em que você exprime o mais singelo dos comportamentos de forma
a prover conforto a uma alma solitária, abandonada por suas próprias idiossincrasias,
perdida em suas próprias fantasias megalomaníacas em que outrora pareciam
alcançáveis, mas que ora apresentam-se fora do alcance, ainda que visíveis à
distância de um palmo de seus braços extensa e exaustivamente esticados.
Um abraço, um beijo,
uma sincera pergunta sobre seu estado geral, um interesse genuíno, uma curiosidade
inocente, um desejo de se integrar, de fazer parte, de mergir, uma confissão,
uma palavra de conforto e etc. Todos são exemplos de singelos comportamentos
que exprimem a exímia capacidade de manifestação do amor, ainda que subjugados
pela sua simplicidade, mas de potência inimaginável em seus efeitos.
À medida que o tempo
passa e que a intimidade aumenta, o normal é que você se abra mais e seja um
livro aberto. Essa vulnerabilidade é assustadora, mas é o acesso que você abre
a esse poço em que a pessoa possa se fartar de água, ou ao menos matar a sua
sede por alguns momentos e assim criar o hábito de sempre ali voltar. Assim como
os animais que encontram essa fonte na natureza, e a sua mera presença fomenta
a diversidade da fauna e o equilíbrio da flora no local. Mas se a pessoa não te
oferece nem um copo de água, nem o mínimo de esforço para demonstrar que ali,
de fato, há água, talvez fique a dúvida se realmente a há, ou se é apenas uma água
simbólica.
Reconheço que você
realmente deve buscar esse amor que há dentro das pessoas, da mesma forma da
analogia do poço de água. Mas se não houver o amor prático para te estimular a
buscar essa fonte, não há energia para continuar. E também fica a dúvida se há
realmente amor, ou se ele é apenas simbólico, estéril.
Então, demonstre,
fala, diga, abra seu coração. É necessário coragem para ser vulnerável, mas o
resultado é sempre surpreendente e recompensador.